Liberdade Religiosa

A Liberdade Religiosa pode estimular o Crescimento Econômico?

Algumas pessoas pensam que as religiões estão em declínio no mundo. Entretanto, demógrafos projetam que nosso planeta terá mais 2,3 bilhões de pessoas afiliadas a religiões até 2050, em comparação com apenas 0,1 bilhão a mais de pessoas não afiliadas à uma religião. Proporcionalmente, a religião estaria “vencendo” por 23 X 1.

Esse crescimento religioso também está mudando o mercado global. Hoje, 3 das 5 principais economias são de maioria cristã. Mas em 40 anos, a projeção é ter apenas 1 de maioria cristã. As outras 4 principais economias em 2050 incluirão países onde predominam hindus, muçulmanos, budistas e não afiliados.

Pesquisas mostram que esse crescimento religioso pode ser bom para o crescimento econômico, desde que seja acompanhado pelo respeito à liberdade de religião ou crença por parte de governos e sociedades.

Nos países que respeitam a liberdade religiosa, a força inovadora é duas vezes maior do que em países onde governos e sociedades não respeitam a liberdade de religião ou crença.

No entanto, desde 2009, o número de pessoas que vivem em países com altas restrições religiosas e hostilidades aumentou de 4,8 para 5,9 bilhões de pessoas. Isso representa um aumento de 1,1 bilhão de pessoas vivendo em países onde a liberdade de religião ou crença está sob pressão, com base em estudos do Pew Research Center.

A liberdade religiosa é um dos três fatores significativamente associados com o crescimento da economia global, de acordo com estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Georgetown e da Universidade Brigham Young. O estudo analisou o crescimento do PIB de 173 países em 2011 e o controle de 24 diferentes influências financeiras, sociais e regulatórias.

Enquanto o mundo navega em anos de fraco desempenho econômico, a liberdade religiosa pode ser um ativo não reconhecido para a recuperação econômica e de crescimento. O estudo analisa e encontra uma relação positiva entre liberdade religiosa e dez dos doze pilares de competitividade global, medida pelo Índice de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial.

O estudo observa que as hostilidades e restrições religiosas criam ambientes que podem afastar o investimento local e estrangeiro, minam o desenvolvimento sustentável, e perturbam grandes setores da economia. Tal ocorreu no ciclo contínuo de regulação e hostilidades religiosas no Egito, que afetou negativamente a indústria do turismo, entre outros setores. Talvez, o mais significativo para o crescimento econômico futuro, o estudo observa que os jovens empreendedores são empurrados a levar seus talentos a outros lugares devido à instabilidade associada a restrições e hostilidades religiosas elevadas e crescentes.

A empresa, que respeita a liberdade religiosa, pode ser beneficiada diretamente com resultados econômicos ou financeiros superiores. Isso inclui tanto a melhoria da moral quanto a redução de custos. Por exemplo, a varejista de roupas Abercrombie & Fitch foi processada e perdeu um caso de discriminação religiosa em 2013 relacionada com a demissão de uma moça muçulmana que trabalhava no estoque por usar um véu (ligado à sua religião) por violação do código de vestimenta da empresa. O caso resultou não apenas em custos legais substanciais, mas também na publicidade nacional negativa da empresa.

Além disso, a liberdade de religião ou crença é um direito humano protegido em vários tratados e acordos, incluindo a Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU. O estudo sugere que as empresas podem obter uma vantagem competitiva, atendendo as expectativas dos stakeholders[1], que são cada vez mais exigentes e esperam que as empresas desempenhem um papel positivo na abordagem de questões de interesse social e justiça.

As conclusões do estudo são oportunas, dada a crescente onda de restrições à liberdade religiosa documentadas por estudos do Pew Research, mostrando que 76% das pessoas no mundo vivem com grandes restrições religiosas ou hostilidades atualmente.

Ademais, os resultados são especialmente relevantes porque a pesquisa mostra que os maiores mercados para crescimento potencial estão em países onde a liberdade religiosa é altamente restrita.

O relatório completo, “Liberdade Religiosa é Boa para os Negócios: uma análise conceitual e empírica”, está disponível no site da Revista Interdisciplinar de Pesquisa sobre Religião (IJRR)[2]. Os autores do estudo são Brian J. Grim, Universidade de Georgetown, e Gregory Clark e Robert Edward Snyder, da Universidade Brigham Young.

O mencionado estudo criou um sentimento de necessidade e urgência na promoção e defesa da liberdade religiosa com foco no apoio por parte da comunidade empresarial. Dessa forma, Brian Grim e Gregory Clark criaram a Associação Liberdade Religiosa & Negócios (ALRN).[3]

A Associação Liberdade Religiosa & Negócios é uma organização sem fins lucrativos, não partidária, que trabalha globalmente para mostrar como a liberdade religiosa é boa para os negócios sustentáveis ​​e inovação. A ALRN educa a comunidade empresarial global sobre como a liberdade religiosa é boa para os negócios, e envolve a comunidade empresarial em unir forças com organizações governamentais e não governamentais na promoção do respeito à liberdade de religião e de crença. A Fundação não toma posições em debates políticos.

Os americanos estão enfrentando desafios em relação à sua crença ou não-crença no ambiente de trabalho.

Quase 36% dos Americanos relatam ter sofrido ou testemunhado discriminação Religiosa no ambiente de trabalho, de acordo com a pesquisa Tanenbaum, “What American Workers Really Think about Religion” (O que os trabalhadores americanos realmente pensam sobre religião).[1]

Aproximadamente metade dos trabalhadores não-cristãos (49%) relatam ter sofrido ou testemunhado alguma inadequação religiosa no trabalho. Trabalhadores evangélicos brancos (48%) relataram este mesmo tipo de desconforto. E dois em cada cinco (40%) ateus também relataram sofrer ou testemunhar inadequação Religiosa.

A pesquisa aponta que quando se trata de abordar a religião no local de trabalho, diferentes grupos religiosos têm necessidades diferentes na acomodação. Por exemplo, um não-cristão se preocupa mais com o direito de exibir um símbolo religioso ou o direito de orar durante o dia, enquanto um cristão está mais preocupado sobre frequentar a reunião de sua igreja no domingo (ou no sábado).

A pesquisa indica que a forma mais comum experimentada ou testemunhada de não-acomodação Religiosa tem sido a obrigação de trabalhar nos dias de guarda religiosa ou nos feriados religiosos (24%) e a participação em eventos patrocinados pela companhia, que não incluem opção de alimentação kosher, halal ou vegetariana (13%).

Isso afeta a linha de produção em várias formas, inclusive na perda da motivação dos empregados. Por exemplo, a pesquisa indica que a motivação é maior em empresas que permitem flexibilidade no horário de trabalho para a observância religiosa.

Apesar disso, a diversidade e a inclusão religiosa não estão nas mentes de muitas empresas. As empresas, com razão, prestaram muita atenção a outras questões de diversidade e inclusão, como a orientação sexual. Agora, a religião é a próxima grande coisa que as empresas precisam prestar atenção.

Em 2016, por exemplo, houve duas vezes mais reclamações de discriminação no local de trabalho por religião do que reclamações por orientação sexual.

No Brasil, a discriminação e a intolerância religiosa estão constantemente presentes na vida dos trabalhadores, pelos mesmos motivos apontados pela pesquisa realizada com os trabalhadores norte-americanos.

Os dias de guarda religiosa muitas vezes não são respeitados, apesar de sua acomodação ser de fácil aplicação. Mesmo trabalhadores de religiões majoritárias, como católicos e evangélicos, vêm sofrendo com desrespeito às suas crenças no ambiente de trabalho.

No Brasil e no mundo, as empresas são bem-vindas na atual luta pela defesa de um direito tão básico quanto o da liberdade religiosa.

No esforço de recrutar a comunidade empresarial como uma nova aliada na promoção e defesa da liberdade religiosa, a Fundação Liberdade Religiosa & Negócios lançou a campanha “Corporate Commitment to Freedom of Religion or Belief (FoRB)” (Compromisso Corporativo para a Liberdade de Religião ou Crença)[2], resumido da seguinte forma:

Compromisso Corporativo para a Liberdade de Religião ou Crença

  1. Sem discriminação e sem assédio com base na religião ou crença;
  2. Acomodação e inclusão religiosa;
  3. Promover negócios sustentáveis e inovadores protegendo a liberdade de religião ou crença;
  4. Proteger e promover a liberdade de religião ou crença nas comunidades.

 

As empresas ao redor do mundo que estão se unindo ao compromisso, dedicam esforços para ter um ambiente de trabalho livre de discriminação ou intolerância religiosa. Buscam a acomodação de casos que podem confrontar a crença de seus colaboradores, como acomodar para que um colaborador que tem o sábado como seu dia de guarda religiosa, possa trabalhar mais nos demais dias e ter a sua folga no sábado, por exemplo.

Os negócios sustentáveis e inovadores que protegem a liberdade religiosa são promovidos pelas empresas que aceitam o compromisso corporativo. Além disso, passam a promover e proteger a liberdade de crença nas comunidades.

As empresas que se juntam como membros do Compromisso Corporativo para a Liberdade de Religião ou Crença recebem uma etiqueta, que podem publicar nos seus estabelecimentos comerciais e em seu site da empresa.

Nos dias 23 a 25 de maio de 2022, na cidade de Washington DC, capital dos EUA, vai ocorrer o evento nacional “Dare to Overcome” [Atreva-se a Superar][3], organizado pela ALRN.

“Dare to Overcome” é o encontro anual da ALRN para grupos de recursos humanos e capelães corporativos da Fortune 500 se unirem para compartilhar as melhores práticas e construir redes de apoio e interseção nacional e global. Todas as crenças são bem-vindas.

O tema de 2022 é “Melhores Juntos”, refletindo a ênfase em sermos fortes aliados uns dos outros e o valor crítico das reuniões presenciais após a pandemia.

O evento “Dare to Overcome” será realizado em Washington DC em parceria com a Busch School of Business e a American Airlines. Esta é a terceira conferência nacional anual orientada para a crença.

A conferência internacional “Dare to Overcome” em 2023 será em Delhi, na Índia. Os eventos anteriores foram no Rio de Janeiro, Seul e Tóquio.

Dare to Overcome” também mostra como políticas de RH orientadas para a crença constroem alianças entre diversas comunidades no local de trabalho e no mercado, com foco especial em serem aliados daqueles com habilidades diferentes. Por quê? É bom para os negócios, a economia e a sociedade!

Michael Bodson, presidente e CEO da DTCC, empresa que aceitou o Compromisso Corporativo, disse: “Ao trazer a diversidade religiosa totalmente para os esforços corporativos de Diversidade e Inclusão, as empresas estarão em melhor posição para atender de forma mais holística às necessidades de todos os funcionários.”

O escritório Bruno Augusto Advogados está preparando uma parceria com a ALRN para trazer e aplicar essas iniciativas no Brasil. O termo ESG está na moda nas empresas e a ideia é trazer a liberdade religiosa para o foco ESG.

Em breve teremos novidades para compartilhar sobre a atuação da ALRN no Brasil. Aguardem!!!

Assista ao vídeo explicativo sobre a importância da promoção de liberdade religiosa no ambiente de trabalho e a atuação da Associação Liberdade Religiosa e Negócios:

https://youtu.be/RKKRGxxpkwo

 

Brian J. Grim é Presidente da Religious Freedom and Business Foundation, especialista em análise de dados transnacionais sobre religião e sobre a geração de dados quantitativos de fontes qualitativas, particularmente na área da liberdade religiosa internacional. Foi pesquisador sênior do Pew Research Center.

Gregory Clark é Vice-Presidente da Religious Freedom and Business Foundation, foi Assessor Jurídico de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no Brasil e atuou como advogado executivo de corporações petroleiras ocidentais.

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